28 de out. de 2008

D. Manuel de Teixeira,
grande e sério banqueiro do século XVI

BANCARROTA

Vem bem a propósito, nesta altura dos catastróficos acontecimentos financeiros, que mais deviam chamar-se “vigarices a descoberto”, relembrar um pouco da história da banca, sobretudo da bancarrota.
Lá pelos antigamentes, tal como hoje, cada rei ou príncipe ou um big chefe qualquer, quando adquiria alguma importância, uma das primeiras atitudes que tomava era a emissão de moeda. Não precisamos voltar muito no tempo porque foi exatamente o mesmo que fez Dom João VI quando desembarcou no Brasil! Aqui a moeda era de papel mas lá... era de ouro, moedas grandes e bonitas nos reinos ricos, outras menores, ou de prata e até de cobre. Pesos e ligas diferentes conforme as regiões e a seriedade do emitente, mais vigarice ou menos vigarice do fundidor ou de quem cunhava, ao ponto de terem proporcionado a Arquimedes o célebre passeio, todo peladão, pelas ruas de Siracusa gritando “Eureka”! Tinha acabado de descobrir como saber se os trabalhos em ouro encomendados pelo rei Hieron II, tinham a conveniente liga de ouro ou se o ourives estava empalmando algo a mais!
No “dantes”, os ourives desonestos “empalmavam” um quanto do ouro que lhes passava pelas mãos, enquanto que hoje se faz o mesmo, mas com outra sutileza: troca-se o chamado dinheiro bom por dinheiro ruim, como subprimes e outras vigarices.
Com o andar dos tempos e o aumento do comércio e das viagens de negociantes por essa Europa fora, carregando cada qual um tipo de moeda diferente, houve necessidade de arranjar “especialistas” que pudessem, com rapidez, apreciar o verdadeiro valor das diferentes moedas e trocá-las pelas correntes em seu país, a fim de permitir ao negociante fazer as suas compras.
Estes especialistas tinham uma autorização especial dos governos, dos duques ou doges, para esta atividade, e pressupunha-se que seriam pessoas da mais alta confiabilidade.
Assim como Arquimedes saiu do banho, nu, a gritar que tinha descoberto um método, infalível, de verificar o conteúdo de cada liga, os genoveses “descobriram” um jeito, no mínimo curioso, de apreciar o valor de cada moeda: uma pele de gado. Isso mesmo, uma pele de gado, curtida, e esticada, onde as moedas eram deixadas cair! Pelo som, ou vibração, ou... por qualquer outro método que os tais especialistas encontraram, num instante o valor da moeda bárbara estava determinado e o câmbio feito!
Aquela pele, esticada como a pele de um tambor, era chamada de banca, banca essa onde se trocava qualquer tipo de moeda.
Enquanto o banqueiro se comportasse com a ética e seriedade que deles eram esperados, as bancas prosperavam. Mas se o banqueiro “metesse a mão na massa” dos clientes e se visse inadimplente, um emissário do governo se encarregava de, com um punhal, rasgar a pele, acabando com a banca. Era a BANCARROTA !
O banqueiro além de, certamente algum castigo – talvez confisco de bens ou prisão – ficava proibido de voltar a ter outra banca.
Imagine-se se tais leis, simples e eficientes se aplicassem ainda nos dias de hoje... quantos punhais teriam que ser afiados!
O primeiro grande “banco” internacional que fechou, não por inadimplência ou má conduta dos negócios, mas exatamente pelo contrário, foi a Ordem do Templários. O rei Filipe, o Belo, de França, quase falido e com a maioria das suas jóias penhoradas aos Templários, obrigou o papa Clemente V a acabar com a Ordem. Depois de um julgamento vergonhoso, os responsáveis pela famosa Ordem foram queimados vivos e o rei, malandro, recuperou os seus bens sem gastar um cêntimo. Bom, gastar sempre gastou, porque teve que dar ao papa uma, certamente confortável, fatia do que roubou!
A grande diferença dos tempos: os Templários foram violentamente assaltados, espoliados, assassinados, apesar de sempre terem sido seriíssimos nas suas transações. Hoje os bancos entram em bancarrota, unicamente por culpa dos seus dirigentes, e quem paga o pato é o povo, com a moeda falsa que os governos hoje podem emitir quanta queiram, porque se trata unicamente de papel!
E tem mais, os gestores desses bancos rotos, sempre saem rindo à toa e com os bolsos cheios!

do Brasil, por Francisco G. de Amorim
27 out. 08

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