23 de jul. de 2009

Os Humbi-Nhanhekas

Aspeto típico da região

Este texto é extraido de um email do meu querido amigo angolano, Manuel Ferreira Duarte de Sousa. Um homem que dedica grande parte da sua vida ao povo de Angola, em assistência social, médica. Um exemplo para todos e um estímulo a que sigamos os seus passos onde quer que nos encontremos nesta Terra.

Os Humbi-Nhanhekas, onde se dizem incluir Muilas (uns pronunciam Mumuilas) e os Mucubais, parentes próximos uns dos outros, ainda andam por ai de saúde e com suas cabeças de gado a pastar.
Ainda não ha muitos meses, eu próprio estive na região entre a Huila e o Cunene, na Cahama (onde houve grandes, violentos, destruidores e determinantes combates entre as tropas invasoras e ocupantes da África do Sul, Cubanos e Angolanos) e no Otchinjau (zona ocupada pelos invasores/ocupantes Sul-Africanos) e no Okavalalu (onde os Cubanos se concentraram antes da retirada para o Litoral e para Cuba), participando como voluntário pelo Rotary Club de Luanda e pelo Rotary International (do qual – do primeiro – sou atual Presidente desde 1 de Julho passado), e onde a luz ainda não chegou e as estradas são picadas precárias e cheias de pedregulhos e irregularidades, incirculáveis no tempo das chuvas, cuja correnteza as corta em diversos pontos), à imagem do que tenho feito no Kuando Kubango, Malange, Luanda, e outras, e ali ainda são vividos com grande pureza, os costumes e hábitos destes povos, cujos homens, sobretudo do Nhanhekas do Cunene, o cavalo ainda e um elemento fundamental na pastagem dos bovinos.
Felizmente saúde não lhes falta

A particularidade esquelética compleição física destes e evidentemente diferenciada de outros Povos Bantus, quiçá, por breves momentos e à medida que deles estamos próximos, que usualmente são de uma elegância e altura acima da média, tendo cabelo farto e até usando suíças, bigodes e até barbas bem postos e aparados (quase com um aspecto Europeu), nos fazem lembrar os Egípcios, assim como o seu gado, que é constituído por bois grandes e de largas e fartas hastes cornudas, que muito recorda em semelhança e aspecto, aqueles que são desenhados nos afrescos egípcios.

Habitação de uma família

Alem disso, são exímios cavaleiros, não usando aparelhos de montagem (sela), e simplesmente usando uma corda como arreio na cabeça do cavalo, que montam com uma destreza impressionante, podendo acertar num pequeno objeto no chão, com uma flecha e trotando em certa velocidade (dariam bons jogadores de polo, com certeza). Ainda levam um porrete e por vezes uma machadinha, arco e flechas, uma faca afiada (punhal tradicional tribal) com cabo de osso ou corno, muito semelhante aos usados pelos Kuanhamas, também do Cunene (região que vai de Xangongo, onde fica a Prisão do Peu-Peu e onde podem ser encontrados os Imbondeiros mais largos do Mundo, até a Ondjiva/Santa Clara, uma a Capital do Cunene e a outra perto na Fronteira – os Povos da Namíbia e de Angola são parentes, sobretudo neste ultimo caso, onde o relevante Rei Mandume, também é respeitado pelos restantes Povos Ovibambos do outro lado da fronteira -. O Primeiro Presidente da Namíbia, Sam Nujoma pertence à etnia Ovivambo também.)
Estes Nhanheka, usam simplesmente umas peles de bovino ou caprino, nas partes intermédias do corpo, usualmente andando de tronco nu, a não ser que esteja frio, altura em que usam casacos e anoraques normais, como toda a gente. As Mulheres usam lamas e esterco animal como cosmética e proteção do cabelo e da pele, em algumas circunstâncias, misturados com leite e com seivas de árvores e ervas, etc. Quase todas andam ainda com a parte do tronco desnudado e descalças ou com sandálias tradicionais feitas de coro bovino, usando um saiote no ventre, feito de peles de vaca ou boi. Usam ainda colares de contas de madeira, de capim seco trabalhado e miçangas. As Mucubais, na área desértica e semi-desértica do Namibe/Mocamedes, serram os dentes da frente em "v", para melhor trincar/trinchar os alimentos e usam espirais de latão/cobre à volta da parte baixa das pernas, junto ao tornozelo até à barriga das pernas. Este e um símbolo para Mulheres casadas e com filhos ou não. As Mucubais chegam a vir a Luanda, para comercializar um produto vegetal para o cabelo (diz-se que faz crescer e restabelece a saúde do cabelo) e para a pele, de cor preta e com um cheiro ativo, chamado Mupeque. Há quem o use misturado com bronzeador como proteção solar.
Ainda não ha muito tempo, elas circulavam pelas Ruas de Luanda, a quase mil km de onde usualmente vivem de forma tradicional, com os seios livres e à vista, tendo aos poucos, as autoridades forçado a que usem sutiã e panos para cobrir essa parte da nudez.
Olhem este "fofo" !

Vinham e continuam a vir à boleia em camiões, e costumam andar em grupos de duas a mais Mulheres, estando algumas já adaptadas às ruas de Luanda e à língua portuguesa corrente de Luanda.
Segundo dizem, estes Povos praticam o alongamento dos lábios vaginais e do clitóris, ao invés de o extorquirem/cortar, como acontece com outros Povos de Angola, para que as Mulheres possam ter maior prazer sexual, podendo estas Mulheres ainda, por costume, gozar de uma alargada liberdade sexual, podendo acasalar com outros parceiros, para além do Esposo, por vontade deste ultimo, que as pode oferecer a uma visita ou amigo, portanto, em sinal de cortesia, ou por vontade das próprias, quando fora do ambiente tribal e em circunstâncias deslocação. Aparentemente, não existe o conceito de traição marital (adultério) propriamente dito, havendo outras regras de conduta tradicionais, não querendo isto dizer também, que as Mulheres dessas Tribos sejam por completo permissivas e dadas a prazeres pelo simples toma lá da cá.
Quando os vi pela primeira vez em seus ambientes costumeiros e naturais, com suas casas cercadas de espinheiros e de algum do gado (eles não vivem em aglomerados ou aldeias), veio-me à mente, a grande expedição organizada pelo Grande Faraó Ramsés, enviada ao Coração e Oeste e Sul de África (Grandes Lagos), para essencialmente descobrir e explorar a Foz do Nilo, Rio que sempre foi a grande fonte da Vida no Egito e que ele achou conveniente dominar e conhecer melhor, talvez como medida de proteção e também de conhecimento, tendo essa expedição/exército, juntos com seus milhares de cabeças de gado/logistica, nunca mais regressado à base/origem, por diversos fatores adversos, segundo se conta, uns por ataques/emboscadas/confrontos com tribos estranhas ao longo do caminho, por perca de direção/desorientação/revolta, ou simplesmente, por desistência/deserção/dispersão, etc, suspeitando-se que muitos dos elementos, ou de forma organizada ou desorganizada, fixaram-se em lugares de grande fertilidade ou em novas zonas ainda desconhecidas para os Egípcios e para outros Povos (bantus) de Africa).
Cada Pai ou Chefe de Família, tem as suas paliçadas de espinheiras para o gado vário, constituido de bois, burros, carneiros, cavalos, e outras para os cereais (Massango, massambala e variavelmente, algum milho, que constituem sua alimentação base na forma de farinha misturada com leite azedado/chocalhado numa cabaça, alimento muito forte e que tem que se ter um estomago habituado, porque pode causar lesões estomacais, por dificuldade de digestão, para quem e de fora daquele ambiente e hábito.) e aquelas onde ficam a casa principal e alguns silos e capoeiras, no centro de tudo isso.
As restantes casas e cercas dos filhos ou parentes, ficam habitualmente num raio de 1km de distancia em redor do habitat do Pai ou Chefe Familiar, e equidistantes uns dos outros, formando núcleos familiares discretos (filhos, Pais e Irmãos). Outros Grupos Familiares de irmãos dos Pais, ficam invariavelmente um pouco mais distantes, agrupando os filhos respectivos nas cercanias, mas mantendo sempre a distância adequada, supostamente, para que cada elemento possa ter espaço suficiente para que seu gado individual paste em liberdade (e muitas vezes sem a presença do pastor) sem interferências de gados alheios.
É interessante ver logo pela manhã e a meio da manhã, e um pouco depois, lá mais para à tarde, bois, cavalos, burros, carneiros e ovelhas, irem isolados ou em pequenos grupos, diretos aos poços/bebedouros (que até não existem muitos, por ser esta uma região meia seca e Arida, com arvores de médio porte e espinheiras por todo o lado, lembrando muito o Alentejo e certas Regiões da Califórnia), onde à vez e em ordem, cheios de paciência, vão bebendo civicamente à medida que chega o seu turno para beber. Assim que bebem, lá vão eles de volta aos seus locais de origem, para mais tarde, irem por si, ou por condução/indução de pastores, de volta à recolha e à salvaguarda de seus estábulos improvisados nas cercas de espinheiras respectivas. Muito difícil será de alguém se apropriar, desta forma, do gado alheio, pois, por instinto ou por algum senso consciente de orientação, todos os animais, a não ser por engano, ou por serem novos, regressam/recolhem-se à tardinha aos seus respectivos proprietários/cercas. Quando se vê a ordem com que esperam a vez para beberem, e com a variedade de animais que se aglomeram na espera, até relembra uma espécie de reunião de animais para a Arca de Noé, onde não são muito comuns incidentes ou a empurra-empurra da impaciência, que se vê usualmente nas concentrações de seres Humanos, ou nos cruzamentos não sinalizados ou em engarrafamentos de transito automóvel, futebol, etc.
Espero ter conseguido aqui em uma duzia de palavras, sido capaz de traduzir um pouco da imagem ainda atual dos Povos de Angola, sobretudo, dos aparentados ao Grupo Étnico dos Himbas, da Namíbia.

Fotos de Francisco Giner Abati, antropólogo e profesor de la Universidad de Salamanca

2 comentários:

Unknown disse...

Tive o privilégio de encontrar uma mulher Himba ou N´Himba, super bem ornamentada no Parque Nacional do Iona, no Namibe, junto ao rio Curoca, levando o gado a beber água.
Segundo me disseram é hoje muito raro verem-se pessoas desta etnia. Tenho fotos, mas não sei pôr aqui. Mando por outra via.
Ana Clara Tendinha Rivera

Zé Kahango disse...

Apesar da raridade, o que é certo é que fotos dessa etnia abundam entre os relatos de viagens turísticas no norte da Namíbia, junto à fronteira com Angola.