17 de abr. de 2009


Água da vida e da morte !

Não é preciso ser cientista para saber que o mundo, desde sempre tem estado em constante atividade, com mexidas que modificam a geografia, alterações climáticas, secas e inundações, e que tudo indica que uma nova era glacial se está a aproximar. Talvez em ritmo mais rápido do que as anteriores, porque o homem contribui para o seu aceleramento.
Como esta Gaia é um “club” fechado, quando congelar num lado vai fazer calor em outro, do mesmo modo que as chuvas que se equilibram com as secas, e essa conversa de que o homem está a acabar com o planeta... é uma furada. Pode ajudar a estragá-lo em ritmo mais violento, mas logo, logo, talvez leve uns milhares de anos, e enquanto o sol não gastar todo o seu combustível, a Terra voltará sempre a ser o que já foi.
Mas alguém sabe mesmo como ela “foi”? Tirando a metáfora do Jardim do Éden, e não se sabe como era esse jardim, o resto... enfim, era o resto.
Desde que me conheço venho afirmando que o maior problema da humanidade, nestes próximos tempos vai ser a água. Sobretudo a falta de água, principalmente em África, e lembro de uma conversa tida há muitos anos sobre isto que nos fez concluir que um dos mais urgentes problemas deste continente era a distribuição de água. Nalgumas regiões há rios imensos, caudalosos, cheias e alagamentos e noutros a seca progride a uma velocidade de catástrofe.
Sabemos que há uns 12.000 anos o hoje deserto do Sahara tinha florestas de coníferas, árvores de regiões frias, e hoje o máximo que por lá se encontra, além de alguns camelos e raros oásis, são areias, areias e pedras, secas, miseravelmente secas.
O índice pluviométrico da Guiné Bissau tem vindo a diminuir drasticamente, ajudado pelo corte descontrolado das suas florestas, permitindo assim abrir ainda mais as portas à invasão das areias do deserto e consequente desertificação. E logo a Guiné que tem quase mais área de água que de terra, o que lhe permitiria o replante e até a conquista de áreas secas.
Além do problema político que a maioria dos países africanos continua a enfrentar, com governos que se eternizam carregando os parcos proventos para seus bolsos particulares, golpes de estado, lutas tribais, corrupção desmedida e falta de quadros, as dificuldades climáticas vêm aumentando a fome e a miséria em muitas regiões.
A primeira coisa que esses países têm que encarar é dar de comer ao povo. Não importando alimentos, e os distribuindo “generosamente” a troco de votos ou da manutenção do poder, mas criando condições de produção, mesmo que de início, simplesmente de subsistência.
Lembro dum professor universitário nigeriano, agrônomo, que trabalhava para a FAO, que apareceu um dia na Casa do Gaiato em Moçambique, onde eu estive seis meses como voluntário. Foi ali ver como estavam a ser reproduzidas as mudas, estacas, de mandioca, para serem enviadas para replantar em outras regiões do país. Levava com ele duas assistentes técnicas, e mostrou como deviam ser podadas para que agüentassem melhor toda a longa viagem que precisariam fazer até ao destino final. Uma das técnicas: “Mas professor, assim nós não vamos ter 100% de rendimento.” Resposta imediata deste: “100%? Para que? Isto não é um laboratório. Tomara eu que o povo produza mais 10 ou 20%. O que precisamos para já não é de experiências científicas, mas de dar de comer a esta gente!”
Eu, que assisti a esta conversa, não me contive e dirigi-me ao professor: “Será que é muito difícil encontrar gente normal?” Ele espantou-se com a minha observação e eu continuei: “Professor, há 50 anos que digo isso. Primeiro aumentar os tais 10 ou 20% e um dia, quando puder ser, produzir quantidade. Mas sempre me senti a pregar no deserto.”
Com os preços das commodities, dos alimentos, no mercado mundial, vai ser muito difícil que África, pelos tempos mais próximos venha a poder concorrer. Mas produzir para comer vai sempre poder, e deve fazê-lo, com urgência, sobretudo naqueles países que continuam a atravessar uma tremenda devastação pela fome.
Se em alguns lados chove demais e noutros falta a água, além dos caudais de alguns imensos rios, em grande parte desaproveitados, duas coisas podem ser feitas:
- primeiro levar água para onde ela escasseia. Tudo quanto é necessário para isto são tubos! Muita tubulação. Leva-se gás e petróleo em condutos, a milhares de quilômetros de distância, porque não levar a água para salvar vidas? Não a céu aberto porque a evaporação comeria a maioria do esforço e nem sequer permitiria que percorresse grandes distâncias;
- depois realocar algumas populações para áreas de onde possam tirar da terra o alimento básico de sobrevivência, e
- meia dúzia de enxadas!
Não são necessários tantos bilhões de dólares, como os que estão a ser oferecidos a bancos e industriais que se foram abaixo por desmedida ganância.
Poucas migalhas desses valores seriam suficientes para ajudar a sobreviver milhares, centenas de milhares de vítimas do “esquecimento” mundial.
Para já que encontrem maneira de comer e sobreviver. Depois, mais tarde, um dia, certamente se achará outra solução para os ajudar a subir (descer!) outro degrau a caminho da miserável vida “civilizada”: passar do campo, pobre, mas digno, para as cidades, onde, por enquanto, a vida se torna paupérrima e indigna.
do Brasil, por Francisco G. de Amorim
17-abr-09

Um comentário:

Anônimo disse...

Sábias palavras