20 de fev. de 2009


Pode-se “fabricar” um povo?
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Ao começar a escrever estas linhas é bom deixar bem claro que não estou a defender nem a atacar quem quer que seja.
De acordo com uns quantos “especialistas” políticos, mais ou menos isentos, a paz no próximo oriente, o famigerado conflito na Palestina, a que chamam, indevidamente o conflito Israel-Palestina, mas que deveria chamar-se Judeu-Palestino, está longe de terminar, mesmo de abrandar, sobretudo depois destas últimas eleições.
Por razoável diferença, a líder do Kadima não conseguiu formar governo, que propunha entre outras medidas o estabelecimento das indefinidas fronteiras do Estado de Israel, o que seria um passo positivo, acabando o governo na mão dos retrógrados Likud e pior, muito pior, na coalizão com o partido do racista, extremista anti-árabe, Lieberman.
Se até hoje os palestinos não conseguiram aceitar a partilha do seu território, a tendência é piorar com a insistência do não reconhecimento pelo novo governo, ao pleno direito de todos os cidadãos, os não judeus, que vivem nas áreas “oferecidas” pela ONU, além das conquistadas pela força.
De acordo com o Corão, que estabelece num dos seus princípios fundamentais a jihad, a luta pela “conversão dos infiéis”, a invasão e a conquista de terras palestinas, e a teimosia racista em não considerar todos os habitantes iguais, independente da sua etnia ou religião, são condicionantes a impedir o estabelecimento da paz. E enquanto não houver paz naquele pequeno espaço do mundo, não vai sossegar o Afeganistão, Indonésia, e sobretudo as relações do mundo árabe com o ocidente.
Pode o Irão e a Coréia do Norte produzirem a bomba atômica, mas ninguém é tão idiota que se atreva a declarar guerra aberta a Israel, que tem tudo isso e, militarmente, muito mais.
A solução não está em convencer o Hamas a deixar de mandar bombinhas para Israel, ou a enviar alguns suicidas carregados de explosivos, irritando, e com razão, o poderio militar dos inimigos, mas em convencer Israel a se limitar à área que lhe foi oferecida pela ONU em 1947. O Hamas nega-se a reconhecer o Estado de Israel, e até hoje ninguém teve coragem, nem a ONU (que ninguém sabe bem para que existe), de declarar a Palestina como um estado de direito, com assento nas Nações Unidas, usando para aquele território dilacerado, o termo enganatório, e racista, de Autoridade Nacional Palestina! Nem o Fatah, que volta e meia faz acordos com Israel, reconhece a situação, sabendo todos os intervenientes, que tudo aquilo é fachada. E do mesmo modo não aceita ver a Palestina espoliada.
Já não estamos em época de aumentar fronteiras através de operações militares. O último dos “conquistadores” foi Hitler, e ninguém, sobretudo os judeus, querem o regresso desse tipo de gente.
A situação atual não pode eternizar-se. Tal como está é uma bomba relógio. Um dia acabará por explodir, e as conseqüências serão muito graves.
Os EUA ainda têm uma palavra que podem dar sobre o assunto. Vão ter que exigir que o Hamas fique quieto por algum tempo para poderem apertar com Israel. Mas... será isto viável?
Acabei de ler um livro extremamente interessante: “Comment le peuple juif fut inventé”, escrito por Shlomo Sand, um judeu israelita, professor de história na Universidade de Tel-Aviv, publicado em Setembro de 2008, primeiro em hebreu, em Israel e logo a seguir em francês. Foi um sucesso de vendas nos dois países. Não será fácil comentá-lo sem parecer estar a tomar partido, mas as declarações nele expostas, com base científica, não parecem deixar grande margem a dúvidas. No próximo texto falarei sobre o assunto.
Por hoje fica só a tristeza de ver que quando os homens não se querem entender, e não conseguem olhar nos olhos do outro, e ver um semelhante, seja ele judeu, ateu ou budista, alguma catástrofe se adivinha.
do Brasil, por Francisco G. de Amorim
20-fev-09

Um comentário:

Ivo Korytowski disse...

Quem começou essa confusão toda foram as nações árabes que invadiram o recém-criado estado de Israel em 1948, dando origem à crise dos refugiados que se arrasta há mais de meio século. Israel não é racista, vinte por cento de sua população é árabe. Os palestinos até hoje não fundaram o seu país (o qual jamais existiu em toda a história, ao contrário do estado judeu que existiu na antiguidade) porque não aproveitaram as chances de fazê-lo quando se apresentaram, preferindo "varrer Israel do mapa" - tanto é que o Hamas até hoje não aceita Israel. A paz é possível entre israelenses e palestinos - o conflito é político e moderno, não é milenar, judeus e muçulmanos se davam muito bem antes de imbroglio.