28 de nov. de 2008



DECOLORES

Nos tempos cada vez mais incertos e inseguros em que vivemos, quando a tecnologia nos traz simultaneamente benefícios e desgraças, o homem, e a mulher, em vez de procurarem ir ao encontro de Deus, seja qual for o nome que lhe dêem, e a forma como O concebem, visam sobretudo o seu mundo externo, a sua aparência, a ganância, o poder.
As maiores potências do mundo, as maiores fabricantes de armamento, gastam fortunas em lutas contra terrorismo, a quem fornecem as armas que depois matam indiscriminadamente, sobretudo inocentes civis de ambos os lados, e não só.
Vive-se um mundo em que a mentira se sobrepõe à singeleza e à verdade, em que se ignora o que está na posição mais baixa, em que se estimula o consumo e o crédito fácil para continuarmos a assistir ao sufoco financeiro da maioria.
É bom lembrar alguns terríveis governantes que só deixaram má memória a quem falta coragem para lhes reconhecer o mérito que também tiveram. Um deles, o tão mal tratado, post mortem, Salazar e tão reabilitado por uma consulta popular feita há pouco tempo, dizia que quanto mais dinheiro se puser na mão do povo, mais sufocado ele vai ficar, porque vai querer comprar tudo, endividar-se e viver desgraçadamente.
Parece profecia. E é. Hoje a maioria da população vive de crédito. E não tem como pagar. Depois os bancos transferem esses créditos podres para a mão dos governos que lhes acodem com milhões que vai sair do bolso de quem? Dos mesmos. Dos trabalhadores, da classe média, sobretudo. E gira a roda do infortúnio.
Grande sorriso na cara, os funcionários das empresas prestamistas são como terroristas: sabem que estão a promover a desgraça de quem cai na sua cantiga.
Já não se sabe mais quem é amigo ou inimigo. Dificilmente se encontra um governo que mereça a aprovação do povo. Surgiu agora uma esperança com Barak Obama, e o mundo torce para que ele faça milagres. Mas um milagre ele não fará: reduzir ou até acabar com a produção de armas! Nem ele nem ninguém. Pelo contrário; os países fabricantes continuam a destinar verbas astronômicas para o desenvolvimento de artefatos com maior poder destrutivo. Destrutivo de vidas humanas e de todo o meio ambiente.
No norte da Espanha, no tempo das lutas contra os sarracenos, as populações das zonas de conflito nunca sabiam quando e quem viria perturbar o seu sossego. E os peregrinos que, de quase toda a Europa se dirigiam ao túmulo do apóstolo Tiago, em Santiago de Compostela, enfrentavam muitas vezes, se não a fúria, a desconfiança dessas populações.
Criaram então uma palavra de “passe” que lhes permitia serem reconhecidos, e acolhidos, ao longo de todo o imenso percurso, por vezes de milhares de quilômetros, que faziam, cheios de fé e paz interior. Iam rezar junto ao Santo. Não consta que lhe fossem pedir armas ou mais guerras, ou fome ou peste. Procuravam paz. Paz interior e para o mundo. Alma alegre, aberta, viçosa, colorida. A palavra estabelecida para serem reconhecidos foi “DECOLORES”.
Cerca de mil anos mais tarde essa mesma palavra foi adotada por um Movimento que levava os homens a melhor conhecerem e seguirem a Cristo. O Movimento dos Cursilhos de Cristandade. Com que alegria cristã eles se cumprimentavam com o “Decolores”.
O mundo está cada vez mais preto e branco; está cinza.
O que é que cada um de nós pode, e deve, fazer para o tornar, todo, “Decolores”?
do Brasil, por Francisco G. de Amorim
29-nov-08

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