24 de set. de 2008


A crise e a crise !

Crise é como mosca, mosquito e jacaré: existe há centenas de milhões de anos e não se antevê que acabem. Nem os jacarés, tão perseguidos por causa da sua pele.
Diz a Bíblia que houve uma “crise” quando se construía a Torre Babel, e assim a construção foi interrompida; houve graves crises nos vários impérios que se esfumaram na história – sassânida, egípcio, persa, romano, inglês e até o pseudo português – e agora chegou a crise que demorou a manifestar-se: a da ganância e da roubalheira!
O presidente do Lehman Brthers, quando o banco em 2007, já deveria estar a pedir esmola para sobreviver, ganhou algo como 45 milhões de dólares pelo seu “brilhante” desempenho! Qualquer coisa como uns mil e quinhentos salários médios de trabalhador americano! Não foi só este “presidente”. Todos os presidentes dessas maravilhosamente fortes e seguras empresas, recebiam algo no mesmo padrão.
Os juízes do supremo americano são bem mais modestos: ganham por ano US$ 208.000 e só o presidente dessa suprema corte tem direito a automóvel, a que aliás renunciou! Um dos juízes ia para o trabalho no seu carrinho. Um Fusca! Nem Cadillac era.
No Brasil, o país do futuro, e da vergonha presente, os juízes do nosso supremo, têm um salário semelhante, mas... todos têm carro com motorista à custa do Zé.
Alguém ficou admirado com isto? Não é caso para tanto, já que aqui o salário mínimo é de cerca de US$ 245, o que significa que sexas ganham, fora o carro, importado, que podem trocar a cada dois anos, mais o salário do motorista, alguma coisa como cinquenta e sete salários mínimos nacionais!
Mas aqui não há crise, como também não há vergonha nem educação e muito menos cultura. O povo come o que lhe dão, salgado, e, em média trabalha cinco meses e meio por ano só para pagar impostos, que equivalem a 45% do PIB bruto. Mais do que em França que luta para diminuir seu déficit.
Apesar da euforia luliana petista, qualquer dia a “crise” vai chegar. E os grandes edifícios erguidos à vaidade vão ruir.
E atingirá quem? Os mais desfavorecidos. É óbvio.
do Brasil, por Francisco G. de Amorim

23 set. 08

17 de set. de 2008

Paraíso à vista !

Por aqui “as coisas” estão muito melhores! Analisando com atenção o quadro abaixo vê-se que “o Rio de Janeiro continua - cada vez mais - lindo”!
Considerando estes números como sendo de todo o Estado do Rio, com cerca de 15 milhões de habitantes, a probabilidade de um turista, que passa uma semana no Rio, insisto, maravilhoso, se envolver num destes problemas, é quase igual a jogar na loteria e acertar!
Por exemplo, o mais comum: roubo de telefones celulares. Roubam-se uns 25 por dia, o que, para uns 10 milhões de pessoas que o utilizam neste Estado, dá 0,00025% de probabilidades de um carioca ou fluminense ser “contemplado” com esse aborrecimento. Já um turista terá que dividir esta perspectiva por 52, se passar aqui só uma semana, ou por 26 se tiver “coragem” para continuar a gozar as maravilhas desta terra, e assim o percentual cairá para 0,0000048 ou, na “pior das situações” para 0,0000096%
Nos homicídios o problema é bem mais simples, uma vez que a quase totalidade se passa em zonas de pobreza, tráfico de armas e drogas, lutas de gangues, etc. De qualquer maneira a possibilidade de atingir um turista, extasiado perante a beleza única desta terra, é de 0,0000025%, ou seja de 1 para 38.805.970! Moral da história: podem, e devem vir ao Rio, sem medo, e ainda jogar na loteria! As chances são iguais!
Entretanto vão, de preferência com guias turísticos, amáveis, agradáveis, sorridentes, ao Pão de Açúcar, ao Corcovado (aumentando os riscos de assalto, mas levando pouca coisa nos bolsos o prejuízo vira vantagem, pela história que levarão para contar), gozar as areias de Ipanema, onde à farta se apreciam as belezas da nossa juventude, que fazem crescer água na boca, beber uns chopinhos gelados, comer o melhor churrasco do planeta, visitar as escolas de samba, e ainda esperar por aquele “assaltinho” bonito, em que se divide com o assaltante o dinheiro que leva no bolso, para não voltar a pé para casa.
Onde já se viu tamanho conjunto de alegrias?

A criminalidade no Estado do Rio de Janeiro: o primeiro número é de Junho de 2007, o segundo de 2008 e o terceiro a média anual; na segunda linha vão os números dos primeiros semestres de 2007 e 2008

Homicídio doloso - - 445 - - 402 - - 4.824
- - 3.135 - - 2.859
Assalto a transeuntes - - 5.080 - - 5.548 - - 66.579
- - 28.453 - - 33.300
Furto de veículos - - 1.780 - - 1.780 - - 21.360
- - 11.052 - - 10.748
Roubo de veículos - - 2.588 - - 2.131 - - 25.572
- - 17.070 - - 13.998
Assalto em ônibus - - 690 - - 628 - - 7.536
- - 4.357 - - 4.134
Roubo de celulares - - 648 - - 728 - - 8.736
- - 3.822 - - 4.070

Por este andar o Éden terrestre não vai só ser, vai continuar a ser, Carioca!

Do Brasil, por rancisco G. de Amorim

18 set. 08

15 de set. de 2008

Pátria ?!
Para quem não tomou conhecimento, começou há pouco a ser publicada uma nova revista “NOVA ÁGUIA”, (http://novaaguia.blogspot.com/) cuja finalidade primária é mais um encontro da Lusofonia.
Como Lusofonia pode ser um tema inesgotável, já que é a falar – a mesma língua – que as gentes se entendem, a primeira edição impressa, com quase 170 páginas de muito boa literatura, e filosofia, foi dedicada ao tema “A idéia de Pátria”.
Muito interessante a ordenação dos textos apresentados, que nos levam desde “a certeza” de que não pode haver apátridas, segundo a definição generalizada de que Pátria “é a terra dos pais”, e pais todo tiveram, até à opinião, apresentada por Palma Dias, de Sêneca, que foi mais longe afirmando que “Pátria é a terra em que nos sentimos bem”!
Há anos inseri num livro meu (“Loisas da Arca do Velho”- 2001), sem ter pedido autorização ao autor, apesar de ter tentando encontrá-lo, um texto que continuo a considerar maravilhoso, sobretudo para aqueles que, como eu e muitos milhares, se encontram fora da “terra dos pais”! Depois de muita coisa dita e escrita e pensada sobre a Pátria, não resisto à tentação de o reproduzir mais uma vez, e a que o autor deu o título de:
O país onde nunca se chega
“O exílio é o momento em que o homem se dá conta, freqüentemente com dor, do apego quase carnal que tem por seu território (país, terra natal, pátria) e por seu grupo (família, amigos, comunidade, nação) de origem.
Esse espaço, que nos modelou, e que cada um de nós, por sua vez, modela à sua feição, é também o espaço de nostalgia, da saudade do retorno. A palavra enuncia ao mesmo tempo a causa e o remédio. Na ilusão de que o remédio (o retorno) bastará para curar o mal suprimindo-lhe a causa (o exílio), a saudade enceta um patético trabalho de memorização, reminiscência e imaginação. Em relação aos locais escolhidos para esse fim, desencadeia um autêntico processo de sacralização e, dessa forma, coloca o espaço e o tempo em um mesmo plano, dando margem a se acreditar que a abolição de um acarreta a abolição do outro.
Mas nem todos os exílios se assemelham. Há os longos e os menos longos, os definitivos e os provisórios. Alguns são impostos (banimento, deportação, fuga); outros, desejados - pelo menos aparentemente. O término de alguns só depende do próprio exilado, enquanto o outro se subordina a decisões alheias. Tampouco a saudade é sempre a mesma. A do exilado político não se iguala à do imigrante, a do trabalhador emigrado não coincide com a do colono. Ela varia em função da relação que o exilado mantém com a sua terra natal, de um lado, e com a terra que o acolheu, do outro.
Essa dupla relação modifica-se com o tempo, pois este influi na sensação dos exilados de pertencerem a qualquer lugar. O local e o entorno, o aqui e o lá, o ontem e o hoje - a consciência de todas essas relações e de todas essas diferenças modula a inquietação e a saudade.
No fundo, a saudade expressa bem o que é o exílio: a busca de uma impossível ubiquidade, o sonho de estar aqui e acolá ao mesmo tempo. A saudade alimenta-se de dualismos: duas vidas simultâneas, vividas em dois níveis - o da realidade e o desejo. A realidade de uma vida ativa e presente, material, imediata, cotidiana; e o desejo a uma vida absolutamente interior, secreta, composta de lembranças e da imaginação daquilo que não é mais, mas que poderá voltar a ser - uma vida sobreposta à vida real.
Embora o exílio não cesse de transformá-la, de embelezá-la, a terra da saudade não deixa de ser uma terra conhecida, já experimentada e vivida: a terra natal. Desse ponto de vista, Ulisses pode ser considerado o protótipo do exilado errante em busca do seu país, e a Odisséia, o relato desse exílio e de seu retorno, ou seja, a cura da saudade. Tudo se passa como se o retorno a Ítaca compensasse totalmente a partida ocorrida 10 anos antes. Mas tal retorno não se concretiza, nem tal saudade se esfuma tão fácil e mecanicamente quanto se poderia supor.
Ulisses não navega por navegar, por se sentir atraído pelo mar ou seduzido pela imensidão. Ao contrário do herói de Dante, que transpõe as colunas de Hércules para se aventurar no oceano em busca de novos horizontes, o de Homero é um imigrante como outro qualquer, que só deseja voltar para casa, após passar pela prova da ausência - o que seria enunciado mais tarde, de uma forma prosaica, por outro exilado celebre, Victor Hugo: “Não se pode viver sem pão, nem se pode viver sem pátria”. Com a única diferença que Ulisses não cessa, durante seu périplo, de lutar pelo retorno, de enfrentar obstáculos cujas sucessivas superações, uma a uma, o deixam cada vez mais próximo da sua meta. Além disso, pretende voltar à sua terra na condição de soberano para restaurar a situação anterior, como se 10 anos de ausência nada representassem.
No retorno de Ulisses não há decepção - a decepção que quase sempre substitui a saudade quando se constata que o remédio tão esperado não basta para curar o mal. Pois aquele que volta não é mais o mesmo que partiu, e os lugares que revê jamais estão tal como ele se recorda. O retorno, para o exilado, é um retorno a si mesmo, ao tempo anterior ao exílio - é retrospectiva, retrospecção. Possível no espaço, o retorno é impossível no tempo. Permite todas as esperanças, mas é fonte de decepção e frustração.
Ausente do Ulisses de Homero, a decepção subjaz em todos os Ulisses modernos, como demonstra o de Nikos Kazantzakis. Sua Odisséia começa onde termina a de Homero. Assim que se instala confortavelmente em seu palácio, Ulisses sente invadir-lhe a inquietação. Entediado, começa a sonhar com a nova partida, com as terras maravilhosas que visitou e desprezou. Assim, o partir e o voltar remetem ininterruptamente um ao outro. Há o prazer de ter retornado, mas há sobretudo o prazer de retornar sempre - o que exige partir eternamente. Para a saudade não se transformar em decepção, é preciso manter a expectativa do retorno.”
Escrito por Abdelmalek Sayad, sociólogo argelino, in “O Correio da Unesco”, Brasil, ano 24, nr. 12, Dezembro de 1996. (Acabo de constatar que este brilhante sociólogo faleceu em 1998)
Ainda sob o mesmo conceito, lembro Agostinho Neto, estudante fora da sua terra, ainda que lusófono, depois emigrado, fugido, quando diz que “O oceano separou-me de mim”, para me levar a concluir, depois de ter andado por África duas dezenas de anos e vir terminar meu tempo no Brasil, onde já estou há mais de 35, que “O oceano separou-me duas vezes”!
E voltemos ao conceito de “Pátria”: a terra de meus pais? A terra que me acolheu? Aquela onde me sinto bem? Se o “oceano me separou de mim próprio” por duas vezes, qual é qual neste contexto?
E o que será a Pátria para meus filhos? Filhos de portugueses, nasceram em Angola de onde foram obrigados a sair na altura da confusão, vivem agora no Brasil onde conhecem meia dúzia de pessoas, mas desconhecem totalmente a noção ou significado, moral ou psíquico, de tal palavra.
Nem o conceito de Fernando Pessoa de ter “a língua como Pátria” lhes diz alguma coisa. Serão eles os tais apátridas que a maioria dos textos afirma não ser possível existirem? Os desenraizados, aqueles que praticamente não conheceram a terra dos pais, nem com ela têm qualquer afinidade.
Também não acreditam no 5° Império, que segundo Pinharanda Gomes os árabes já o consideram real - todo o espaço muçulmano - uma vez que o 4° terá sido o Romano!
Em que acreditam então aqueles que estão em condições semelhantes, para quem os feitos de Ourique, verdadeiros ou falsos, que tanto ajudaram a expandir a lusofonia, são desconhecidos?
Qual será o conceito de Pátria para os ciganos que peregrinam pelo mundo à procura de um espaço de sobrevivência condigna que a maioria ainda não encontrou?
É fácil falar de “Pátria” quando se nasceu num torrão de fortes raízes simples, sobretudo quando se tem a oportunidade de aí voltar tantas vezes quantas se queira para “carregar” as baterias desse “amor pátrio”.
Os filhos dos imigrantes são os que não têm pátria. Os pais ainda procuram manter algum vínculo, ou com familiares ou amigos que não emigraram, e que o tempo vai levando, não deixando elo algum a alimentar essa ligação à “terra dos pais”! A luz, a cor, os cheiros da primavera da pátria dos antepassados vira letra de romance.
Quem não vive ou viveu essas condições, e a quem resta um mínimo de consciência, ao ver desmoronar toda uma sociedade, que deveria ter evoluído para ser uma “Pátria única”, mas onde impera a ganância, o sexo e os homicídios em nome do que quer que seja, só consegue estender o seu coração para aqueles que sofrem, em qualquer parte do mundo, independente do lugar onde nasceram os seus pais.

do Brasil, por Francisco G. de Amorim

15 set. 08

12 de set. de 2008


Há 38 anos

Manchete no Diário de Luanda, 16 de Agosto de 1970:
GENOCÍDIO NO SUDÃO - “Dez milhões de árabes estão a massacrar quatro milhões de negros”, revela um jornalista norueguês
Há 38 anos já o mundo estava cansado de saber que um brutal genocídio acontecia no Sudão, um “segundo Biafra”, segundo o jornalista Oeying Heradstveit da Noruega Broadcasting Television, que passou 18 dias naquele país, e filmou a situação.
Quase meio século de indiferença do mundo perante essa monstruosidade. Primeiro, porque não era conveniente criar conflito com os países produtores de petróleo, depois porque ninguém se atreve a incomodar a China, a quem o Sudão fornece o petróleo troco de armamento e obras de infra estrutura, além de que a China nem conhecimento toma das reclamações humanitárias mundiais.
Soube este imenso país dar um extraordinário espetáculo com os Jogos Olímpicos, mas, à boa moda maoísta, ou stalinesca, em primeiro lugar, e até ao último, os interesses do Estado, leia-se “nomenklatura” (que terá outro nome e grafia em mandarim) se sobrepõem a qualquer problema que envolva direitos humanos, ou o respeito pelo Outro, qualquer que ele seja.
Descobrir estas notícias em jornais com quase meio século e constatar que continuam a ser manchetes, como “novidade”, e que o mundo absolutamente nada faz para conter tamanha insanidade, e assim parece implicitamente concordar com o massacre, leva-nos a ter que confirmar a covardia dos homens, dos (ir)responsáveis políticos.
Invadiu-se o Iraque com o pretexto de que teria armas de destruição em massa! O quanto de gente há que “destruir” para se considerar situação idêntica, mesmo que se matem “só” cem ou duzentos de cada vez?
Há 38 anos o massacre estava em marcha, Quantos foram mortos até hoje? Quantos faltam para acabar com a etnia mais fraca?
Agora a técnica é mais sutil: deixam-se as populações abandonadas, em áreas desérticas e assim vão morrendo de fome e doenças, economizando-se balas.
A Cruz Vermelha ajuda, mas pouco mais pode fazer do que ajudar aquela pobre gente a morrer mais devagar, porque o fim do conflito ninguém enfrenta nem se interessa em enfrentar.
O dinheiro do petróleo e da corrupção falam mais alto aos assassinos do Sudão, aos seus parceiros comerciais e àqueles que, covardemente, se omitem de intervir.
Assim vai o mundo, e irá. Muito mais importante parece ser o túnel circular de 27 km entre a Suíça e a França, para fazer chocar umas partículas nanicas. Os cientistas vão aprender “à brava” e as populações do Sudão vão continuar a desaparecer!
Só mesmo outro Big Bang geral, com esperança que surja uma nova humanidade mais “animal”, porque os animais dificilmente se dizimam dentro da mesma espécie.
do Brasil, Francisco G. de Amorim
12 set. 08

10 de set. de 2008



Nazismo = Sovietismo
A constante repetição da história

Hitler

No final da 1ª Guerra Mundial a Alemanha ficou derrotada, esmagada e envergonhada. Além disso os Aliados impuseram-lhe pesadissimas indenizações que o povo não conseguia pagar, por maior esforço que fizesse, o que levou o país à bancarrota, fome, desemprego, sem que o governo conseguisse sair da situação.
Condições ideais para o surgimento de um ditador, um líder, mesmo maluco e perigoso, como, regra geral, são os ditadores.
Surgiu o Nacional Socialismo que criou uma nova imagem da Alemanha, acabou com o desemprego e negou-se a pagar mais indenizações de guerra, tendo, em dois ou três anos levantado o moral do povo alemão, recuperado o seu orgulho e moral habitual.
Num instante a Alemanha renasce e volta a ser, mais uma vez, numa tremenda potência industrial e bélica, desdenhando dos “tratados de paz” assinados com os Aliados vencedores.
Nova bandeira, hinos celebrando a hegemonia do povo alemão, os “arianos puros” e definido um inimigo comum: os não arianos, sobretudos os judeus, por suas riquezas, a que se lhes juntaram os ciganos. “Limpar” o país. A feroz perseguição começou.
Com a finalidade de ainda mais inflar o ego germânico, e de reconstruir o ex-glorioso Império Austro Húngaro, invade e ocupa a Áustria. A seguir a “pedido” dos sudetas ocupa a Checoslováquia, com o acordo de Stalin, metade da Polônia, a Hungria...
Estava começada a 2ª Guerra Mundial

Putin

A Perestroika e a queda do muro de Berlim, pondo fim a sete décadas de regime soviético, com uma ditadura totalmente desumanizada, provocou a falência da União Soviética com a desintegração e independência dos países satélites, descrédito, desemprego generalizado, uma voraz corrida ao lucro fácil com o domínio de máfias, normalmente comandadas por ex dirigentes da KGB, e um sentimento de vergonha do povo perante a opinião pública mundial.
Estava criada situação análoga ao aparecimento de outro ditador que não tardou a impor-se.
Foi fácil encontrar o caminho para trazer de volta o orgulho nacional, lembrando o tempo em que a União Soviética metia medo ao mundo, sem deixar os americanos dormirem descansados! Era preciso levantar a memória dos “heróis”, mesmo daqueles que haviam caído em desgraça.
Recupera-se o hino stalinista, nas rádios e tvs voltam a aparecer os “jingles” dos anos quarenta quando anunciavam a propaganda da “nomenklatura”. Estimula-se o desenvolvimento de modernas armas de guerra, fazem-se desfiles militares para mostrar o grande poderio bélico, antigo motivo de orgulho dos sovietes, esquecendo que até hoje não conseguem fabricar um simples aspirador doméstico (o que nem é mais necessário, porque se importa do oriente a preço de chiclete!) e melhor ainda, podem ameaçar os parceiros comerciais, que se não atrevem a desafiá-la, a EU e os países desmembrados, com duas armas poderosíssimas: o corte do fornecimento de gás e o petróleo!
Passo seguinte começa com o apoio à Sérvia e o não reconhecimento do Kosovo, e corrida a ajudar os “povos” que pretendem “independência-independente”, invadindo a Geórgia, retalhando-a, e ocupando cidades chaves que ameaçam a sua hegemonia no fornecimento de combustíveis a países agora na OTAN.
Todos os ingredientes se juntam para nova guerra. O problema é que esta guerra seria atômica e destruiria o mundo global. Ficaremos na guerra fria, de influências comerciais e teoricamente ideológicas, apoio ao desenvolvimento nuclear do Irão para manter Israel e os EUA na posição de medrosos, até que um dia...
Os homens não aprendem com a história, nem querem. A ambição o poderio, o bezerro de ouro é o grande Imperador!

do Brasil por Francisco G. de Amorim
10-set-08

8 de set. de 2008



Francisco G. de Amorim

Dois cariocas

1944. Por razões que... (deixa p´ra lá), o Brasil foi forçado a entrar na 2ª Guerra Mundial. À pressa, e quase sem equipamento, preparou uns quarenta e tantos pilotos, jovens, destemidos e atrevidos, como é o bom brasileiro, sobretudo o carioca, e lá vão eles para Itália, onde foram entregues ao comando americano.
Para americano, brasileiro ainda era uma espécie quase descartável, apesar do tremendo sucesso que fazia a grande Carmen Miranda, que Hollywood insistia em querer transformar em mexicana!
No dia da chegada foram os jovens pilotos apresentados aos aviões que lhes estavam destinados: os P-47, que nunca haviam experimentado.
No problem! Motor de partida aqui, metralhadoras, ali, bombas além, recolha do trem acolá, marcha à ré é ali... e o resto vocês verão em pleno vôo.
Primeiro dia de guerra, instruções para voarem baixo e infligirem o máximo de dano ao inimigo, fogo bravo e reconhecimento. Como é evidente os brothers mandaram-nos para onde o campo de fogo inimigo era o mais violento! Logo nesse dia alguns aviões foram abatidos, algumas vítimas fatais e um dos pilotos, depois de ter bombardeado uns quantos alvos com inteiro sucesso, o seu avião atingido, salta de pára quedas e fica pendurado numa árvore, onde no impacto fraturou um braço que nunca voltou a ficar completamente bom. E ali ficou o resto do dia e uma noite, sem poder sair, até que no dia seguinte uma coluna alemã que batia em retirada, face ao avanço dos Aliados, descobre aquela figura insólita e a carrega para o próximo hospital de campanha, sobrecarregado de feridos e moribundos.
Mas o nosso tenente, já enfaixado, não teve tempo para se aborrecer nesse hospital. Pouco dias depois a chegada das tropas americanas correm com o inimigo e assumem o hospital! Aí sim: intervenção cirúrgica, tratamento de primeira, sorrisos, simpatia, e não tardou a que o nosso herói fosse repatriado, como herói de guerra. Que foi!
Até ao fim dos seus dias recebeu a pensão de mutilado de guerra, tenente, e sua vida foi correndo. No Rio.
Amigos não lhe faltavam, nem conhecidos, e o jeitinho brasileiro veio complementar, com folga, o seu pré de militar: um contrabandozito, sem nada de drogas ou armas, mas de equipamentos de som, e outros que mesmo antes do “milagre” do Delfim se proibia ou dificultava importar.
Assim o nosso simpático herói jamais necessitou de emprego fixo (um porre aturar patrão!), com um braço meio imobilizado e sem exibir medalhas, compensou o seu único dia de guerra que jamais esqueceu.

Cearense, muito cedo a família veio para o Rio com seu pai colocado na alfândega do porto. Vivendo com largueza, foi mandado para os Estados Unidos teria uns 16 anos, para continuar os estudos. Um dia ali recebe um telefonema de um amigo que lhe pede que compre um Cadillac e o mande para o Brasil. Assim fez, e o carro chegou em perfeitas condições.
Não tardou que os pedidos se repetissem, aumentando consideravelmente, e o nosso carioca, com o pai na alfândega, que lhe facilitava a retiradas dos carros sem a menor burocracia, não tardou a ser o maior importador de Cadillacs no Brasil! Já os mandava vir mesmo sem encomenda porque era o carro mais cobiçado pelos jovens endinherados e pela soçaite não só local, como de outras cidades.
Nada de montar um estande de vendas. À boa moda da terra, alugou umas quantas garagens em Ipanema e ali guardou os carros. A tomar conta daquela “riqueza” um cabeça chata de confiança, lá na rua sentado num pequeno banco, e recostado a uma acácia que o protegia dos calores tropicais, guardava as chaves de todas as garagens, com uma etiqueta em cada uma onde simplesmente estava escrito o preço do carro.
Como eram modelos com cores e preços diferentes, para o fiel guardador não se confundir, as etiquetas estavas escritas com caneta da cor do carro! E o “importador” anunciava, abertamente nos jornais: vende-se Cadillac, qualquer modelo e cor. Ver na rua tal... !
Os interessados ao aparecerem na dita rua, rua sem comércio, dirigiam-se ao único ser vivente que por ali estacionava à vista e faziam a pergunta sacramental: - Onde estão os Cadillac para venda? – Qual modelo e a cor da sua preferência? – Azul e conversível.
O zeloso guardador, procurava a chave própria, ia abrir a garagem, o comprador babava ao ver-se já circulando, imponente, pela Cidade Maravilhosa com as gatinhas dando gritos para o galã, perguntava o preço. Tantos mil dólares. – Como posso pagar? – Pode deixar o cheque comigo e sair já no carro!
Era uma beleza. Ainda os carros não pisavam o solo do Brasil e já desciam do navio com placa e tudo! Nem licença de importação, nem burocracia nem nada.
Modelo carioca.
Viva o povo brasileiro, como diz o grande João Ubaldo Ribeiro!

N.- Estas histórias não são fantasia; conheci os “artistas” que mas contaram e que espero continuem, mesmo já entrados em anos, de boa saúde e disposição!
8-set-08

5 de set. de 2008



por Francisco G. de Amorim

Porquê, Senhor ?

Porque nos fizeste tão egoístas?
Perdemos um amigo, e em vez de nos regozijarmos por saber que ele agora está mais perto de Ti, em paz, sem a poluição moral e física deste mundo a atormentá-lo, atormentamo-nos nós com essa perda. Do mesmo modo que nos alegramos quando um amigo casa ou lhe nasce um filho, ou ainda quando é promovido na sua carreira profissional, devíamos agradecer-Te por tê-lo levado para o lugar de eleição que está reservado aos bons, mesmo quando sabemos que todos nós não fomos bons o suficiente para limpar a sujeira humana que, desde sempre, continua a impedir que a própria Bem-aventurança venha residir neste planeta.
Depois, tristes, os olhos turvos com algumas lágrimas que nós, homens, tantas vezes temos vergonha de deixar cair, olhamos devagar em volta e vamos descobrir no meio de tanto abandono e sujeira uma pequenina flor que insiste em mostrar a sua simplicidade e a sua beleza.
Paramos a olhar, a apreciá-la na sua simplicidade e na sua força em querer vingar. Em não se deixar esmagar pelo peso da iniqüidade dos homens.
- Aqui estou! Vês-me? No meio de todo este lixo que vós, humanos, espalham e abandonam por todos os cantos, eu atrevo-me a nascer, florir, e mostrar que há sempre uma esperança!
Não me colhas, para ser colocada mesmo em lugar de destaque numa jarra, por muito bonita que seja. O meu lugar é aqui mesmo, neste mundo difícil e aparentemente incompreensível, e sobretudo, incompreendido pela maioria.
Se não vierem cortar-me ou abafar-me com mais um monte de lixo, devagar, sorrindo para este céu lindo e este sol que me aquece, um dia conseguirei cobrir todos estes dejetos e fazer deste lugar um pequeno paraíso.
Faz como eu. Não te importes de fazer a diferença à tua volta. Um dia, lá de cima tu verás que onde ficarem os teus restos eu vou lá florir também.

No meio daquele êxtase dou-me conta de que o meu amigo, agora, está bem, ele que há tempos sofria.
Mas eu vou-me empobrecendo, cada vez que algum irmão ganha o lugar prometido.
Sei que de lá eles continuam a olhar, já não para mim, mas por mim.
E eu, egoísta, continuo a duvidar se prefiro a riqueza da sua amizade ou saber que eles estejam bem e eu cada vez mais pobre.
Porquê?

2-set-08