12 de set. de 2008


Há 38 anos

Manchete no Diário de Luanda, 16 de Agosto de 1970:
GENOCÍDIO NO SUDÃO - “Dez milhões de árabes estão a massacrar quatro milhões de negros”, revela um jornalista norueguês
Há 38 anos já o mundo estava cansado de saber que um brutal genocídio acontecia no Sudão, um “segundo Biafra”, segundo o jornalista Oeying Heradstveit da Noruega Broadcasting Television, que passou 18 dias naquele país, e filmou a situação.
Quase meio século de indiferença do mundo perante essa monstruosidade. Primeiro, porque não era conveniente criar conflito com os países produtores de petróleo, depois porque ninguém se atreve a incomodar a China, a quem o Sudão fornece o petróleo troco de armamento e obras de infra estrutura, além de que a China nem conhecimento toma das reclamações humanitárias mundiais.
Soube este imenso país dar um extraordinário espetáculo com os Jogos Olímpicos, mas, à boa moda maoísta, ou stalinesca, em primeiro lugar, e até ao último, os interesses do Estado, leia-se “nomenklatura” (que terá outro nome e grafia em mandarim) se sobrepõem a qualquer problema que envolva direitos humanos, ou o respeito pelo Outro, qualquer que ele seja.
Descobrir estas notícias em jornais com quase meio século e constatar que continuam a ser manchetes, como “novidade”, e que o mundo absolutamente nada faz para conter tamanha insanidade, e assim parece implicitamente concordar com o massacre, leva-nos a ter que confirmar a covardia dos homens, dos (ir)responsáveis políticos.
Invadiu-se o Iraque com o pretexto de que teria armas de destruição em massa! O quanto de gente há que “destruir” para se considerar situação idêntica, mesmo que se matem “só” cem ou duzentos de cada vez?
Há 38 anos o massacre estava em marcha, Quantos foram mortos até hoje? Quantos faltam para acabar com a etnia mais fraca?
Agora a técnica é mais sutil: deixam-se as populações abandonadas, em áreas desérticas e assim vão morrendo de fome e doenças, economizando-se balas.
A Cruz Vermelha ajuda, mas pouco mais pode fazer do que ajudar aquela pobre gente a morrer mais devagar, porque o fim do conflito ninguém enfrenta nem se interessa em enfrentar.
O dinheiro do petróleo e da corrupção falam mais alto aos assassinos do Sudão, aos seus parceiros comerciais e àqueles que, covardemente, se omitem de intervir.
Assim vai o mundo, e irá. Muito mais importante parece ser o túnel circular de 27 km entre a Suíça e a França, para fazer chocar umas partículas nanicas. Os cientistas vão aprender “à brava” e as populações do Sudão vão continuar a desaparecer!
Só mesmo outro Big Bang geral, com esperança que surja uma nova humanidade mais “animal”, porque os animais dificilmente se dizimam dentro da mesma espécie.
do Brasil, Francisco G. de Amorim
12 set. 08

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