3 de set. de 2008

Porquê, Senhor ?



do Brasil
por Francisco G. de Amorim



Porque nos fizeste tão egoístas?
Perdemos um amigo, e em vez de nos regozijarmos por saber que ele agora está mais perto de Ti, em paz, sem a poluição moral e física deste mundo a atormentá-lo, atormentamo-nos nós com essa perda. Do mesmo modo que nos alegramos quando um amigo casa ou lhe nasce um filho, ou ainda quando é promovido na sua carreira profissional, devíamos agradecer-Te por tê-lo levado para o lugar de eleição que está reservado aos bons, mesmo quando sabemos que todos nós não fomos bons o suficiente para limpar a sujeira humana que, desde sempre, continua a impedir que a própria Bem-aventurança venha residir neste planeta.
Depois, tristes, os olhos turvos com algumas lágrimas que nós, homens, tantas vezes temos vergonha de deixar cair, olhamos devagar em volta e vamos descobrir no meio de tanto abandono e sujeira uma pequenina flor que insiste em mostrar a sua simplicidade e a sua beleza.
Paramos a olhar, a apreciá-la na sua simplicidade e na sua força em querer vingar. Em não se deixar esmagar pelo peso da iniqüidade dos homens.
- Aqui estou! Vês-me?No meio de todo este lixo que vós, humanos, espalham e abandonam por todos os cantos, eu atrevo-me a nascer, florir, e mostrar que há sempre uma esperança!
Não me colhas, para ser colocada mesmo em lugar de destaque numa jarra, por muito bonita que seja. O meu lugar é aqui mesmo, neste mundo difícil e aparentemente incompreensível, e sobretudo, incompreendido pela maioria.
Se não vierem cortar-me ou abafar-me com mais um monte de lixo, devagar, sorrindo para este céu lindo e este sol que me aquece, um dia conseguirei cobrir todos estes dejetos e fazer deste lugar um pequeno paraíso.
Faz como eu. Não te importes de fazer a diferença à tua volta. Um dia, lá de cima tu verás que onde ficarem os teus restos eu vou lá florir também.
No meio daquele êxtase dou-me conta de que o meu amigo, agora, está bem, ele que há tempos sofria.
Mas eu vou-me empobrecendo, cada vez que algum irmão ganha o lugar prometido.
Sei que de lá eles continuam a olhar, já não para mim, mas por mim. E eu, egoísta, continuo a duvidar se prefiro a riqueza da sua amizade ou saber que eles estejam bem e eu cada vez mais pobre.
Porquê?

2-set-08

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